Motocidas agem sempre em dupla e se aproveitam da agilidade da moto e da dificuldade de identificação.
Veículo ágil para escapar de engarrafamentos, a moto é sinônimo de praticidade. No entanto, em Salvador e Região Metropolitana, elas têm se transformado em um desafio para a Secretaria de Segurança Pública (SSP): são cada vez mais comuns os assassinatos praticados por bandidos sobre duas rodas.
Na maioria das vezes os relatos desses homicídios são muito semelhantes: dois homens chegam, executam o alvo e fogem, valendo-se da agilidade do veículo e dos capacetes, que dificultam a identificação.
A SSP não tem dados oficiais dos “motocídios”, mas desde janeiro o CORREIO noticiou mais de 45 casos no estado. A maioria em Salvador. Um dos casos mais recentes, a execução de Carlos Antônio Vasconcelos Moreira, o Tony de Corina, 34, trouxe pânico à pacata rua Florianópolis, na Barra.
No último dia 7, Tony foi abordado por dois homens numa moto. O que estava na garupa efetuou vários tiros, acertando dez na vítima. Carlos Antônio respondia por tráfico e estelionato. A morte dele é investigada pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
Em outro crime do mesmo tipo, na última sexta-feira, o policial civil José Henrique de Cerqueira, 46 anos, foi morto a tiros por dois homens em uma moto, na BA-504, estrada que dá acesso ao município de Santanópolis, nas proximidades de Feira de Santana. Os atiradores fugiram.
Na visão do delegado Bruno Ferreira Oliveira, do DHPP, a ação dos “motocidas” tem crescido de forma assustadora.
“Bandidos descobriram que têm mobilidade e rapidez com as motos durante a fuga. Isso já acontece há muito tempo, mas virou rotina há cinco anos, com o boom da violência. A maioria das motos usadas é do tipo ‘cabrito’. Ou seja, com placa clonada”, explica.
Os motocidas atuam sempre em dupla e normalmente o carona é quem atira contra a vítima. Na garupa, ele fica na altura ideal para atirar na cabeça da vítima.
Safos, os criminosos usam as motos para se embrenhar por vielas por onde os carros da polícia não conseguem circular. Isso obriga os policiais a desembarcar dos veículos e se expor ou, ainda que iniciem a perseguição, têm dificuldades em alcançar as duplas, que podem circular pelas vielas ainda a bordo da moto.
“Além disso, um homem se equilibra na garupa com a mesma facilidade que teria se estivesse a pé”, observou o também delegado da DHPP, Marcelo Tannus, responsável por algumas investigações do gênero.
Em 2007, o major Valter Menezes, comandante das Rondas Especiais Atlântico, realizou um estudo sobre execuções em duas rodas, com base em recortes de matérias publicadas em vários jornais, além da observação do cotidiano policial e relatos de ações promovidas em outros estados e até fora do país.
De acordo com o estudo, os bandidos têm diversas estratégias que evitam a identificação. Em primeiro lugar, ao contrário dos carros, cujas marcas e modelos são bastante conhecidos, as motos são em geral muito parecidas. Além disso, é fácil camuflar ou esconder a pequena placa do veículo: a polícia já observou casos em que a identificação foi coberta com pano, folhas de árvores, adesivos ou mesmo com a mão de quem está de carona.
O estudo do major aponta ainda que os criminosos que cometem o crime a bordo de uma moto podem deixar a cena do crime em disparada, descer escadarias, passar por passarelas, subir em passeios, entrar em becos, cruzar canteiros de avenidas e, além de tudo, têm total mobilidade se encontrarem um congestionamento pela frente.
E depois de escapar, diferente do que aconteceria com um carro, sumir com uma moto é bem mais fácil: elas são escondidas dentro de casas, atrás de outros carros, cobertas com lonas ou simplesmente abandonadas no mato. (Correio).